O ETHOS E A LIRA EM 'RELATÓRIO SEM CONTAS', DE PAULO FERREIRA DA CUNHA (Prefácio) Entre estro e sophia, a poética-cívica de Paulo Ferreira da Cunha se revela por meio de contundentes imagens, ricas sonoridades e densas reflexões, configurações de um ethos poético transmutado em bela e prudente lira que o insigne filósofo e professor tange com extrema competência netas páginas, assumindo, embora “que um autor não se confessa” ( Coisas Elementares ), a poesia como forma de tradução estética de sua jornada pelo caminho das escolhas e deliberações morais. Poeta que na agoridade caminha pela senda do amor à sabedoria, assume a ironia lírica como método dialógico em autêntica ‘poemaiêutica’ propiciadora no leitor da parturição de impressões sinestésico-especulativas e de interpretações que atiçam sua sensibilidade, leitor e indivíduo contemporâneo potencialmente prudente que oscila e sofre entre a angústia produzida pela trágica morte nietzschiana de Deus e as esboroadas esperan